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Para providenciar a informação mais credível e cientificamente correcta possível, os TESLA SQUAD procuraram informação com profissionais que lidam diariamente com os temas do projecto:

Professor Eduardo Ducla-Soares

Antigo director do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica e actual docente no mesmo e na FCUL, o Professor Eduardo Ducla-Soares possui uma preenchida carreira internacional como professor e investigador, eis a sua opinião acerca do tema do MEDEA|5:

 

 

Engenheiro e Investigador Ricardo Salvador

Ricardo Salvador fez a licenciatura em Engenharia Física no Instituto Superior Técnico, realizou o trabalho de final de curso já no Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica (IBEB) e por fim concluiu o doutoramento na Faculdade de Ciências da UL em Engenharia Biomédica. A área de especialização é a estimulação magnética e/ou eléctrica através da utilização de campos electromagnéticos de regiões cranianas que tem como fim o tratamento de doenças neuropsiquiátricas, o diagnóstico de algumas patologias e ainda o estudo cognitivo de algumas regiões do córtex humano. Eis o interessante diálogo que tivemos:

 

 

 

Tesla Squad

 

-Quais é que são os efeitos, nocivos ou benéficos, que os campos eletromagnéticos podem ter sobre os humanos?

 

Ricardo Salvador

 

-Isso é uma pergunta muito geral. Os campos eletromagnéticos são utilizados desde há muitos anos, umas centenas de anos, na área da saúde. Antigamente recomendava-se a utilização do peixe eléctrico para curar artrite, dores de cabeça, enxaquecas. Nunca percebi muito bem se se recomendava que se comesse o peixe ou para que a pessoa se picasse, o que dava um choque eléctrico. Houve também o trabalho com pessoas daltónicas, que levou a descobrir uma relação entre fenómenos elétricos e contrações musculares, neste caso em específico. Deu-se então um "boom" nas aplicações e no interesse que as pessoas tinham nessas áreas.

Hoje em dia, a presença de campos electromagnéticos na saúde é quase uma constante. Temos o caso  das ressonâncias magnéticas (se calhar  o mais conhecido para a população) onde se utilizam campos magnéticos estáticos no tempo e campos magnéticos de altas frequências, estamos a falar de radiofrequências. Depois existem também outras aplicações na área da saúde de campos eléctricos, por exemplo, em modalidades de estimulação eléctrica. A estimulação eléctrica pode ser feita de diferentes formas, por exemplo uma que as pessoas conhecem claramente é quando vão ao fisioterapeuta, com uma contratura ou contusão muscular, e lhes são aplicados campos eléctricos. Há também agora uma outra aplicação interessante de campos eletromagnéticos, nomeadamente uma técnica nova que está a ser desenvolvida por uma empresa israelita, a Novocure ( http://www.novocure.com/ttf_therapy.php?ID=16). Basicamente o que eles utilizam são campos elétricos de alta frequência (200 KHz) a variar no tempo, os quais são aplicados na cabeça e  vão, segundo eles, afectar o crescimento de tumores, com a particularidade de terem uma  especial eficácia na diminuição do tecido chamado glioblastoma multiforme. Estes tumores que se desenvolvem nas células da glia (substância branca não neuronal) no cérebro, são terríveis pois são bastantes resistentes à radioterapia, levando a que a única solução seja a quimioterapia. No entanto a quimioterapia também não é muito eficiente nestes pacientes, o que faz com que  esses pacientes tenham um prognóstico muito limitado. Esta é então uma alternativa que está a ser investigada como possível terapêutica eficaz no tratamento destes cancros. O que se pensa é que estes campos elétricos a variar no tempo possam afetar a nível da divisão celular, e ao fazê-lo levar a que o tumor deixe de crescer.

 

 

TeslaSquad

 

-Há uns tempos vimos um caso de um doente com Parkinson, a quem foi aberto o crânio e a que foram aplicados eléctrodos. Sendo o cérebro um órgão sensível, é possível saber com  exactidão como aplicar e onde aplicar estes eléctrodos?

 

Ricardo Salvador

 

-Essa modalidade que se utiliza em doentes com Parkinson chama-se deep brain stimulation (estimulação cerebral profunda). O que se faz nesta intervenção é a aplicação de um eléctrodo invasivamente em regiões do cérebro chamados os gânglios de base, que são regiões muito profundas do cérebro, portanto não respondem a estimulação não invasiva como eléctrodos colocados no escalpe. São então colocados eléctrodos invasivamente nessa zona do cérebro e controlados por um aparelho, o qual é colocado sobre o peito da pessoa, muito parecido com o pacemaker dos doentes cardíacos. Essa é outra aplicação interessante, os pacemakers. O que acontece nesses pacientes é que a estimulação dos gânglios de base diminui os sintomas de Parkinson, nomeadamente os tremores. O que eu sei, não sendo especialista nessa técnica, é que essa técnica funciona muito bem na diminuição dos tremores. O que acontece por vezes é, lá está, aquela questão que referiram, se se sabe exactamente o que se está a estimular. Aqui não se percebe muito bem os mecanismos do funcionamento da técnica, há umas teorias e percebe-se mais ou menos o que se está a fazer. Sabe-se quais são os parâmetros da equação, nomeadamente a intensidade e a frequência do campo elétrico que se deve utilizar, mas ainda se conhece mal os mecanismos precisos de estimulação e por vezes é preciso voltar a operar a pessoa para fazer pequenos ajustes na posição dos eléctrodos, porque lá está, se a primeira operação não os colocou na região onde daria maior efeito, então é preciso uma nova aplicação.

Existe uma outra técnica que é chamada de electroconvulsiva. Tem um nome assim um bocado assustador não é? Mas é muito eficiente no tratamento da depressão, sendo a depressão uma das doenças com mais efeitos nocivos na nossa sociedade, porque incapacita muitas pessoas que estão em idade de trabalhar e que deixam de ser produtivas. A forma de tratamento que é mais utilizada hoje em dia para a depressão é medicamentos, mas há pessoas que são resistentes aos medicamentos que se utilizam. Para essas pessoas, uma alternativa é a terapia electroconvulsiva, onde se utilizam choques eléctricos que induzem uma convulsão na pessoa, essa convulsão tem efeitos anti-depressivos. Hoje em dia é possível fazê-lo sem efeitos nocivos, nomeadamente perda de memória, que estava associada a este tratamento. Hoje em dia já são muito controlados, é um processo médico com acompanhamento, a pessoa é anestesiada e é uma técnica que no futuro será possivelmente a melhor para curar a depressão.

 

 

TeslaSquad

 

-Mas não é usado como um tratamento regular, mais como alternativa…

 

Ricardo Salvador

 

-Isso é uma boa pergunta. Em Portugal não sei qual é actualmente a situação, mas nos EUA sei que  o usam sobretudo como tratamento para depressões resistentes à medicação. Eu não gosto de entrar em manias da conspiração, se é a indústria farmacêutica que tem um lobby muito forte contra a utilização dessas técnicas. Não sei, a minha especialidade não é a depressão, mas parece-me claramente que é uma técnica que no futuro poderá ter mais utilização do que tem agora.

 

 

TeslaSquad

 

-Hoje em dia, depois de tantos anos com aplicações da electricidade no nosso dia-a-dia sabe-se se esses aparelhos podem ter efeitos na saúde ou pensa-se que não?

 

Ricardo Salvador

 

-É assim, efeitos na nossa saúde têm de certeza… Hoje em dia se calhar esses efeitos ainda não são muito bem percebidos. Por exemplo nas ressonâncias magnéticas (eu dou muitas vezes o exemplo da ressonância magnética porque é um exame com que eu tenho contacto muitas vezes) sei que existem guide lines à utilização que impossibilitam a utilização em grávidas por exemplo, mas é mais por precaução do que como resultado de algum estudo que tenha demonstrado efeitos nocivos. No caso da ressonância existem dois tipos de efeitos devido aos dois tipo de campos utilizados: existe o efeito do campo magnético estático (que não varia no tempo) e que é muito elevado (muito maior que o efeito do campo magnético variável) e o efeito do campo magnético variável. No caso do estático estamos a falar de campos magnéticos na sua maioria da ordem dos 2/3 tesla, o que é muito forte. O campo magnético variável por sua vez oscila no tempo a altas frequências e é o chamado campo magnético de excitação, pois é o responsável pela indução electromagnética de campos eléctricos nos tecidos. Esses campos eléctricos nos tecidos podem levar à estimulação sensorial dos nervos periféricos que pode provocar sensações a algumas pessoas, se bem que esses efeitos não são nocivos. Para além de que, como há indução de corrente, vai haver efeito de joule nos tecidos - produção de calor – o que vai levar a um aumento de temperatura dos tecidos. Esses aumentos de temperatura, se forem muito elevados, podem ser nocivos. É por isso que os scanners têm medidas de segurança que impedem que a temperatura estimada nos tecidos aumente mais do que está definido como, medida de segurança. Portanto, sobre os efeitos dos campos variáveis no tempo é preciso controlar a dose por causa dos efeitos, como o aumento da temperatura nos tecidos. No que toca aos campos estáticos, hoje em dia, têm sido feitos muitos estudos sobre os efeitos destes campos. Que eu conheça, nenhum indicou que campos estáticos pudessem ser ou pudessem ter algum efeito nocivo para a saúde. Existem alguns estudos que demonstram que campos , acho que é de 8 Tesla (que é um campo que hoje em dia não pode ser utilizado), podem de facto levar a algumas alterações da função enzimática e do funcionamento dos canais iónicos ao nível celular. Mas quer dizer, só se obteve a verificação deste fenómeno em estudos in vitro, portanto com células. Nunca se verificou em estudos in vivo e além disso, estes campos não são utilizados, hoje em dia, sem ser em investigação. Portanto hoje em dia, a intensidade dos campos está limitada, acho que é a 2 Tesla nos EUA, na Europa não sei se têm a mesma limitação mas basicamente os que são utilizados são de 2/3 tesla e a essas intensidades não há efeitos descritos enquanto efeitos nocivos. Portanto, se pesarem os prós e os contras dos efeitos nocivos e dos efeitos que poderão ter em termos de diagnóstico, como no caso da ressonância, podemos dizer que aqui os benefícios ultrapassam claramente os efeitos nocivos.

 

 

TeslaSquad

 

-Mas isso é especificamente na área da saúde, e relativamente ao nosso dia-a-dia, no nosso quotidiano, os aparelhos que transportamos, as interacções que sofremos …

 

Ricardo Salvador

 

-Isso é muito mau conhecido hoje em dia. Há um efeito que é o efeito da dose que é depositada, quer dizer quando nós estamos a falar ao telemóvel este está sempre a emitir um campo electromagnético de elevada frequência que vai ter efeitos parecidos com aqueles que eu referi para os das radiofrequência como nas ressonâncias magnéticas. Agora, em termos dos efeitos precisos à acumulação dessa dose com o tempo não se sabe muito, daí haver aquela polémica toda acerca da utilização do telemóvel. Parece haver uma tendência agora para o aumento de alguns tipos de cancros cerebrais, nomeadamente os glioblastomas que vos falei, agora será que isso está associado ao facto de estarmos cada vez mais rodeados por campos electromagnéticos? Eu duvido que alguém possa fazer essa relação hoje em dia. O que se sabe é que são precisos mais estudos para se perceber os efeitos biológicos deste campos de alta frequência, efeitos possivelmente nocivos destes campos.

 

 

TeslaSquad

 

-O mesmo se aplica para as linhas de alta tensão?

 

Ricardo Salvador

 

-Para as linhas de alta tensão a diferença será a frequência do campo, e aí, face à distância a que está da casa das pessoas eu diria que os efeitos são limitados, mas lá está, têm que ser feitos sempre estudos, medições, para garantir realmente que as doses recomendadas não são ultrapassadas.

 

 

TeslaSquad

 

-E existem valores tabelados para essas doses recomendadas?

 

Ricardo Salvador

 

-Na nossa área existem valores máximos para as doses toleradas pelos tecidos, agora em outras aplicações eu não sei até que ponto isso é controlado, por exemplo a rede wireless de casa.

 

 

TeslaSquad

 

-Ainda relativamente aos telemóveis, acha que a indústria tem feito esses estudos de forma a diminuir os efeitos na saúde devido à exposição aos telemóveis, ou seja, construir aparelhos mais seguros? Considera que a indústria tem essa preocupação?

 

Ricardo Salvador

 

-Eu acho que a indústria dos telemóveis se preocupa essencialmente em vender telemóveis. Se me perguntas o que eu e acho que eles deviam fazer, penso que sinceramente que eles deviam investir dinheiro em estudos de forma a perceber melhor estes efeitos. Porque a população alvo deles são pessoas que utilizam muito estes aparelhos , e estão expostas a esses campos diariamente. Portanto eu acho que eles só tinham a ganhar em perceber exactamente os efeitos nocivos e aplicar parte das receitas, seria o ideal, nesses estudos. E sei que há estudos financiados por algumas empresas, acho que a Nokia por exemplo. Para além de ser  importante achar que eles têm um papel importante a desempenhar, esses estudos têm sempre que ser controlados para garantir que há isenção das pessoas que estão a desempenhar esse estudo da marca que o patrocina, para assegurar a fidelidade desses resultados. Isso é importante na Ciência.

 

 

TeslaSquad

 

-Considera que em Portugal, a sociedade tem conhecimento dos reais efeitos que a utilização dos telemóveis e outros aparelhos que já referimos podem ter nas suas vidas, na sua saúde?

 

Ricardo Salvador

 

-Em média a população portuguesa já deve ter ouvido na televisão alguma notícia que esses aparelhos podem ter um efeito nocivo na sua saúde, não percebe exactamente porquê, e sinceramente acho que não se preocupam muito com esses possíveis efeitos nocivos. Depois, quer dizer, há sempre portugueses que estarão a par disso, falando do português médio, mas acho que para que nós possamos dar a mensagem correcta às pessoas, por um lado é importante perceber exatamente os mecanismos de interacção dos campos com os tecidos humanos e os potenciais efeitos nocivos que esses campos poderão ter, só depois podemos então transmitir a mensagem correcta. Actualmente, esta mensagem seria “usem com moderação, precaução”.

Voltando ao exemplo da ressonância, os guide lines que existem hoje são exactamente a referir esta moderação na utilização. A maior parte dos acidentes que há com ressonâncias, ou efeitos fisiológicos, são acidentes devido à elevada intensidade do campo: uma empregada vai à sala, deixa lá qualquer coisa que é disparada para o campo, pode magoar a pessoa visto que o campo em questão exerce uma grande força sobre objetos metálicos. Por isso é preciso ter isto em linha de conta. Agora, em relação a alertar a população em geral é preciso ter uma ideia clara do que se quer transmitir, são precisos os tais estudos que demonstrem os tais efeitos dos campos.

 

 

TeslaSquad

 

-O Projecto Medea tem, lá está, por objectivo desmistificar esta ideia da perigosidade dos postes de alta tensão. Como já referiu é necessário investir em estudos, considera também que este tipo de iniciativas deve ser continuado de maneira a conseguir-se esclarecer a população em relação aos reais perigos dos campos no nosso quotidiano?

 

Ricardo Salvador

 

-Sim, este tipo de estudos e iniciativas têm todo o mérito e são fundamentais para tudo. E a população só têm a ganhar com isso.

 

 

TeslaSquad

 

-Já há algumas décadas que convivemos com estes campos todos os dias. O que é que acha que faltou, que falta, para não se terem realizado estudos que nos permitam saber com certeza quais os seus reais efeitos?

 

Ricardo Salvador

 

-Isso é uma boa questão. Pessoalmente, eu diria que é por termos problemas actualmente maiores do que esses, nomeadamente problemas a nível financeiro e que dificultam a nossa vida e fazem com que não consigamos suportar outras questões como a melhoria da qualidade de vida. Mas, mesmo nos estados mais estáveis a nível financeiro que o nosso, estes estudos, ou estes efeitos, ainda são muito discutíveis e parece-me que isso também se deve ao facto de estes estudos não serem fáceis de fazer. Quer dizer, um estudo relativamente simples para ver o efeito destes campos nas pessoas devido, por exemplo, à utilização do telemóvel, é acompanhar um grupo de pessoas ao longo de x anos que usam regularmente o telemóvel e ver os efeitos fisiológicos dessa utilização. Mas depois também é preciso ver que provavelmente algumas dessas pessoas vão contrair cancro, será que esses cancros são devido ao uso de telemóveis? Como é que se pode provar? O que se pode ver é se houve uma incidência maior de cancro naquele grupo do que seria esperado, aí podemos investigar se houve algum efeito, mas este tipo de estudos são estudos difíceis de fazer, exigem recursos, exigem tempo… Depois existem outros estudos a nível mais fundamental acerca dos campos electromagnéticos, como é que vão afectar os tecidos, como é que vão afectar a actividade das células? Existem mas também são limitados. Por exemplo, os nossos conhecimentos em relação ao funcionamento do cérebro também são ainda limitados, o que cria dificuldades à interpretação de resultados. Acho que são este tipo de adversidades que fazem com que os nossos conhecimentos sobre os efeitos dos campos sejam por si limitados.

 

 

TeslaSquad

 

-E em relação ao desenvolvimento neste tipo de matéria, não sei se está a par das mais altas tecnologias, quer na área da saúde quer no geral, e se esse desenvolvimento está a ser feito tendo em conta estes efeitos?

 

Ricardo Salvador

 

-A nível médico tem-se, porque os instrumentos médicos têm de passar por uma bateria de testes e de restrições que existem hoje em dia de acordo com as medidas de segurança, que têm por base os conhecimentos existentes até às datas das mesmas. Por isso, podemos dizer que relativamente aos equipamentos médicos eles são seguros com base naquilo que nós hoje sabemos, os conhecimentos que temos. Relativamente aos outros dispositivos, como o telemóvel, eu não sei dizer o que eles controlam, se controlam a potência do sinal, não sei como se processa esse controlo, nem em relação aos routers que utilizamos em casa, não sei qual é a intensidade desses sinais nem sei que tipos de testes são feitos para garantir que essa intensidade esteja abaixo de valores tabelados.

 

 

TeslaSquad

 

-E há uma variedade muito grande de dispositivos que utilizam estes campos electromagnéticos…

 

Ricardo Salvador

 

-Sim sim, estes campos há em todo o lado. Nós em qualquer ponto que vamos aqui da faculdade estamos rodeados por rede wireless. Hoje em dia para não estarmos rodeados de campo electromagnético temos que ir para uma caixa de metal μ, se ficarmos lá dentro de certeza que não entra lá nada, só assim seria possível estarmos totalmente isolados.

 

 

TeslaSquad

 

-Mas caso se viesse a descobrir que existem de facto efeitos nocivos resultantes da utilização de campos electromagnéticos, ia ser necessário encontrar soluções?

 

Ricardo Salvador

 

-Tinham que se procurar soluções sim, mas eu acho a solução nunca passaria pela utilização de metal μ, mas caso se verifiquem esses efeitos nocivos então teria de ser impostas restrições claras à maneira como as pessoas utilizam esses aparelhos e tem que se investir numa política de educação das pessoas.

 

 

TeslaSquad

 

-Seria um voltar atrás no tempo…

 

Ricardo Salvador

 

-Eu não diria que seria um voltar atrás, acho que seria um andar para a frente na maneira como as pessoas estão informadas sobre os efeitos daquilo que utilizam. Muitas pessoas têm dificuldade em compreender coisas que não veêm, os campos electromagnéticos não se veêm.

 

 

TeslaSquad

 

-Nem se sentem...

 

Ricardo Salvador

 

-Exactamente, portanto será muito muito importante, caso os efeitos nocivos viessem realmente a ser comprovados, explicar às pessoas e investir numa política de educação para as pessoas perceberem o que são estes campos , quais de facto os seus efeitos nocivos e como podem evitá-los.

 

 

TeslaSquad

 

-E em relação à construção de casas em zonas perto de postes de alta tensão. Existem muitas pessoas com medo e receio dos seus efeitos. Acha que essa preocupação é justificável? Ou os estudos são satisfatórios?

 

Ricardo Salvador

 

-Actualmente há pessoas a viver perto de postes de alta tensão, não há nada que possamos fazer em relação a isso. O que é que podemos fazer? Podemos por um lado fazer o que este projecto, onde vocês participam, está a fazer: medições, tentar perceber exactamente os níveis dos campos que são produzidos nas casas das pessoas. Esse é um primeiro passo muito importante. Existe outro passo que para mim é imprescindível e é a única maneira para desmistificar esses efeitos nocivos ou de facto descobri-los seria acompanhar a evolução ao longo do tempo de pessoas que vivem ao lado de postes de alta tensão e comparar com pessoas que não vivem. Para as pessoas que vivem ao lado destes postes eu compreendo que exista algum receio. Que eu saiba hoje em dia, não há razão para haver esse receio, não há efeitos comprovados. Mas não quer dizer que um dia se venha a descobrir que na verdade eles existam. Talvez este problema pudesse ter sido evitado logo quando os sistemas foram desenhados, não vejo assim tão  grande necessidade de os postes de alta tensão passarem por cima da casa das pessoas. Agora temos um possível problema em mãos. Não nos devemos alertar, mas é importante monitorizar a casa dessas pessoas em particular e continuar muitos estudos estatísticos para controlar esses efeitos.

 

 

TeslaSquad

 

-Voltamos àquele caso onde a necessidade e a utilidade ultrapassa os possíveis efeitos nocivos, pois todos precisamos de electricidade e a rede foi montada, mesmo não se sabendo exactamente quais os efeitos que poderia ter.

 

Ricardo Salvador

-Sim, eu acho que sim. Actualmente não vale a pena deitar abaixo toda a rede eléctrica de Portugal com base em suspeitas, que eu saiba são infundadas de momento.

 

 

TeslaSquad

 

-E em relação à comparação dos campos electromagnéticos provenientes destes postes de alta tensão com por exemplo ao de um telemóvel a carregar na nossa mesa de cabeceira ou mesmo o de uma ressonância magnética. Que nos sabe dizer?

 

Ricardo Salvador

 

-É muito difícil comparar esses campos, porque os campos são muito diferentes e têm efeitos muito diferentes consoante a sua frequência. Mais uma vez, o que é necessário é a realização de estudos.

 

O Professor afirma que para altas frequências do campo electromagnético os efeitos na saúde são ainda desconhecidos; os estudos feitos até à data não permitem concluir nenhuma relação causa e efeito, apesar de estudos realizados nos EUA observarem uma relação entre a potência eléctrica instalada em residências e o número de mutações registadas nos seus habitantes. Porém, esta relação não é conclusiva, por exemplo: uma pessoa que tenha em sua casa uma potência eléctrica elevada, é também alguém com maior capacidade económica que terá uma alimentação e uma rotina diária diferentes de uma pessoa com uma baixa potência eléctrica no seu lar, ou seja, o número de factores e variáveis e o tempo de duração destes estudos não permitem concluir que os campos electromagnéticos são prejudiciais à nossa saúde.

Esta complexidade de estudos pode ser aplicada a muitos outros cenários onde estão em jogo os campos electromagnéticos e a saúde.

As antenas de comunicação utilizadas em telemóveis emitem radiação menos intensa do que as antenas de televisão que estão perto de nós, sendo que as últimas estão presentes há mais tempo na nossa sociedade. Durante uma ressonância magnética, algo comum actualmente, estamos sujeitos a campos magnéticos na ordem dos sete Tesla. Experiências feitas com campos nestas escalas permitem induzir correntes no sistema nervoso humano, porém nenhum efeito nefasto foi registado nestes exemplos.

Para frequências mais baixas, os efeitos apenas se poderiam observar se o corpo humano tivesse uma quantidade significativa de elementos com propriedades ferromagnéticas, o que não acontece.

Foi observado que o número de mutações em humanos habitantes de determinados pontos do globo terrestre varia periodicamente entre valores normais e valores acima da média; estes episódios são associados a variações do campo magnético terrestre. A conclusão tirada pela comunidade científica não foi que o campo magnético terrestre afecta a saúde humana directamente, mas sim que as variações do campo magnético afectam a protecção da superfície terrestre contra radiação cósmica; assim o número elevado de mutações está associado a um aumento de electrões livres na ionosfera que provocariam esses efeitos nefastos.

Resumidamente, podemos concluir da nossa conversa com o Professor Eduardo Ducla-Soares que não existem evidências científicas de que os campos electromagnéticos são prejudiciais à saúde humana.

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